Brasil: Especialistas duvidam que tarifas de Trump consigam reindustrializar os EUA

Entenda: tarifaço de Trump é capaz de reindustrializar Estados Unidos?

© REUTERS/Marcos Brindicci/Proibida reprodução

A política de tarifas imposta pelos Estados Unidos contra diversos parceiros comerciais, conhecida como “tarifaço”, tem como objetivo reaquecer a indústria norte-americana, segundo o ex-presidente Donald Trump. No entanto, especialistas ouvidos pela Agência Brasil avaliam que a medida dificilmente reverterá um processo de desindustrialização iniciado há décadas, embora possa atingir alguns fins políticos e econômicos.

Segundo Edemilson Paraná, professor de sociologia econômica da LUT University (Finlândia), a falta de coordenação estatal e de coesão política nos EUA impede uma reindustrialização efetiva.

“O governo Trump não tem um programa de investimentos em infraestrutura, política industrial coordenada ou regulação bem articulada. Industrialização exige mobilização social intensa e esforço político brutal”, afirmou.

Ele ressalta que a desindustrialização americana foi acelerada por políticas neoliberais desde os anos 1980, com a financeirização da economia. Dados da Casa Branca mostram que a participação industrial dos EUA no mercado global caiu de 28,4% em 2001 para 17,4% em 2023.

Além disso, Pedro Paulo Zaluth Bastos, professor da Unicamp, destaca que as tarifas geram incerteza no mercado, desestimulando investimentos de longo prazo.

“Decisões de investimento precisam de previsibilidade, e essa política é muito instável”, disse. Ele alerta ainda para efeitos inflacionários imediatos, que podem corroer o apoio a Trump antes das eleições de 2026.

Possíveis impactos e contradições

Apesar das críticas, Paraná afirma que a estratégia de Trump não é sem propósito.

“Ele usa o poder econômico dos EUA para pressionar países a negociar. Se não cedem, ele aumenta tarifas e arrecada mais, equilibrando o déficit fiscal”, explicou.

Porém, ambos os especialistas veem obstáculos estruturais: falta de mão de obra qualificada, resistência do trabalhador americano a certos setores e dependência de importações essenciais, como café e roupas.

China como contraponto

Enquanto os EUA enfrentam dificuldades, a China avança com um modelo estatal coordenado, controlando fatores como câmbio e política industrial.

“Os EUA subestimaram a China, que foi além de produzir ‘bugigangas’ e hoje domina tecnologia de ponta”, disse Paraná.

Para ele, a simples imposição de tarifas não recuperará a indústria americana, que tem hoje apenas 1 em cada 12 empregos no setor — contra 1 em cada 5 nos anos 1970.

Enquanto isso, Trump aposta em energia barata e cortes de impostos, mas, sem demanda crescente e estabilidade, o impacto na reindustrialização deve ser limitado.

Fonte e Fotos: Agência Brasil

https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2025-04/entenda-tarifaco-de-trump-e-capaz-de-reindustrializar-estados-unidos

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